Segundo dados de 2003 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 30 milhões de brasileiros (ou seja, 16% da população) nunca estiveram em um consultório odontológico. Talvez, por essa razão, muita gente ainda acredite que os problemas bucais estejam limitados apenas às cáries. A boca é o órgão do corpo humano mais exposto a processos infecciosos e traumáticos. "É uma cavidade úmida, escura, bastante vascularizada, sensível a alterações orgânicas internas e a variações de temperatura e repleta de microrganismos. Portanto, muito vulnerável a doenças", explica Artur Cerri, presidente da Sociedade Paulista de Estomatologia e Câncer Bucal (Sope) e professor da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em São Paulo.
São inúmeros os males capazes de afetar o sorriso de uma pessoa, especialmente dos mais desleixados. A falta de higiene e de cuidados essenciais com a limpeza dos dentes e de toda a cavidade bucal é a principal responsável por doenças que vão desde uma simples gengivite até tumores. Traumas e outros agentes externos também causam complicações. Dentes quebrados ou mal posicionados, restauração dentária em excesso e próteses e dentaduras que machucam provocam lesões e infecções crônicas.
Há ainda a possibilidade de medicamentos favorecerem o aparecimento de inflamações, como o que ocorre com o uso contínuo de drogas destinadas ao controle da pressão arterial e das crises de epilepsia.
A cavidade bucal não funciona apenas como alvo. Ela também serve de porta de entrada para levar encrenca a outras partes do corpo. Infecções crônicas da gengiva, por exemplo, podem danificar fígado e rins. Mas o grande perigo mesmo leva o nome de endocardite bacteriana, uma infecção das válvulas do coração que acomete com maior freqüência quem já apresenta danos no órgão. Por meio de abcessos na boca (acúmulo de pus causado por inflamações), agentes nocivos podem se alojar no coração e piorar o quadro, provocando até a morte. É por isso que pacientes cardíacos são orientados a tomar antibióticos antes de cada procedimento dentário. Esta atitude preventiva ajuda a diminuir os riscos dessa complicação.
Veja os principais sintomas, distúrbios e doenças que afetam a boca
•Afta

Também conhecida como estomatite aftosa, uma das doenças mais comuns da mucosa bucal, atinge cerca de 20% da população mundial, sobretudo jovens. São lesões dolorosas, múltiplas ou solitárias, que costumam incomodar por cerca de 18 dias. As aftas podem ser precedidas por ardência, coceira ou formigamento. As causas ainda não estão totalmente esclarecidas, mas suspeita-se que sejam relacionadas a predisposição genética, trauma, alergia, hormônios, estresse e doenças auto-imunes. O tratamento depende de cada caso. Não há cura, mas medicamentos específicos diminuem a sua freqüência e gravidade.
• Herpes

• Boca seca ou xerostomia
Com o avanço da idade, as glândulas salivares diminuem a produção, o que pode provocar secura na boca e, conseqüentemente, dificuldades para falar, mastigar e engolir alimentos. A saliva fica mais viscosa, espessa e espumosa e a língua arde - um quadro que também afeta a sensibilidade do paladar. De acordo com o estomatologista Artur Cerri, o hábito de fumar e de ingerir bebidas alcoólicas, além do uso de determinados medicamentos, como antidepressivos e anti-hipertensivos, também contribuem para a redução da salivação. Além do incômodo, este problema pode trazer conseqüências mais graves. "A saliva possui anticorpos com ação antibacteriana e antimicrobiana, por isso a redução de sua produção deixa a pessoa exposta a uma série de doenças", alerta Artur Cerri. Remédios e até saliva artificial são alguns cuidados que ajudam a amenizar o distúrbio.
•Gengivite e periodontite
A inflamação da gengiva (gengivite) é desencadeada pelo acúmulo da placa bacteriana, que se forma principalmente pela má higiene dos dentes. A região fica avermelhada, inchada e costuma sangrar. A simples remoção da placa bacteriana resolve o caso, mas se não for feita o quadro pode evoluir para periodontite. Isso ocorre a partir do momento em que as fibras e os tecidos que suportam a arcada dentária ficam comprometidos. Neste momento, sem intervenção de um especialista, há risco de perda de dentes. Vale lembrar que a predisposição genética é um fator relevante para o aparecimento.
• Halitose
Termo da medicina para o conhecido mau hálito, pode ter mais de 50 causas. No entanto, segundo o estomatologista Carlos Eduardo Ribeiro da Silva, 90% delas estão relacionadas ao estado em que se encontra a boca. Diferentemente do que a maioria das pessoas acredita, pouquíssimos casos têm origem no estômago. "Basicamente, a halitose é provocada por falta de higienização ou limpeza inadequada, sobretudo da língua", afirma o especialista. O acúmulo de alimentos forma placas brancas de origem bacteriana na superfície da língua - a chamada saburra lingual. Ali, mais de 700 microrganismos passam a produzir compostos sulfurados voláteis que liberam enxofre, gás responsável pelo odor desagradável. "Para prevenir este mal, é preciso manter uma higiene completa. A escova de dentes pode ser usada para limpar a língua, embora também existam à disposição raspadores linguais, vendidos em farmácias", orienta o especialista.
• Candidíase

• Atenção ao Câncer oral

O estomatologista Jayro Guimarães Jr. explica que 95% desses tumores se desenvolvem na forma de carcinoma epidermóide. "Ou seja, aparecem como uma ferida que nunca cicatriza e cresce progressiva e rapidamente, infiltrando-se nos tecidos vizinhos", explica. O tratamento é feito por meio de cirurgia para retirada do tumor, podendo ser empregadas radioterapia e quimioterapia. Como em outros tipos de lesões cancerígenas, quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores serão as chances de sobrevida. O grande problema, segundo o estomatologista Artur Cerri, é que há poucas campanhas de prevenção contra o câncer de boca e as pessoas costumam procurar ajuda muito tarde. "Cerca de 85% dos casos são descobertos em estágio avançado, o que dificulta o tratamento e cura. Resultado: 50% dos pacientes morrem em um ano após o diagnóstico", lamenta o especialista.
O principal agente causador do câncer na cavidade bucal é o cigarro, mas o álcool tem efeito potencializador. Nos lábios, o tumor maligno também pode ser desencadeado pela exposição ao sol sem o uso de protetores contra os raios ultravioleta, especialmente em pessoas de pele e olhos claros.
As principais formas de prevenção, portanto, são parar de fumar, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e usar filtro solar labial. Outra recomendação é ficar atento às feridas na região que demorem mais de 15 dias para cicatrizar. Não quer dizer que necessariamente sejam câncer, mas é preciso investigar. Ao notar qualquer lesão suspeita, procure um médico ou estomatologista.
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